É muito comum a concepção de que o homem é um animal evoluído e, portanto, não deixa de ser um animal. Muito dessa ideia devemos à Darwin. Ela é análoga à afirmação de que as os animais são Plantas que evoluíram, portanto, também são plantas. Assim como os Animais não são Plantas, mesmo que tenham passado por uma etapa evolutiva caracteristicamente vegetal – como ainda são as formas mais simples de vida animal –, o Homem também não é um animal, mesmo que tenha passado por formas evolutivas equivalentes às formas de animais que vemos hoje.
É importante que saibamos enxergar o Unus Mundus, a Grande Unidade, entre todas as formas de Vida. Isto é necessário para podermos compreender como cada uma destas formas é a transformação de uma outra. Mas, por outro lado, também é importante que saibamos perceber a distinção entre uma forma de Vida e outra, para que tenhamos a consciência das diferenças qualitativas que existem entre as várias manifestações de Vida.
Por um lado, há uma grande Unidade entre o Homem e todos os outros reinos, pois como dissera Goethe, ele é a síntese de todas as espécies. O Homem reúne em si tudo aquilo que nos reinos Animal e Vegetal, se encontra separado, sob a forma de diferentes espécies. O Homem é o que os alquimistas chamavam de Microcosmos, todo um pequeno universo, uma miniatura de tudo aquilo que acontece na Grande Natureza. No Homem encontramos o seu próprio Unus Mundus.
Justamente por isso, o Homem é algo especial perante a natureza que o criou. Um Animal, uma Planta, um Mineral, serão sempre uma parte de algo maior, mas o Homem pode ser, e é, um Todo em si mesmo, embora faça parte de algo maior do que ele próprio, que é a Humanidade, que é o Universo.
O fator que faz com que o Homem seja isoladamente um Todo em si mesmo é aquilo que ele tem, e que animal algum jamais terá, a INDIVIDUALIDADE, o que quer dizer indivisível.
Um animal, como vimos, é parte de uma Alma Grupal, que configura sua espécie. Um Homem tem a sua própria Alma Individual, ao mesmo tempo em que todo o Universo se reproduz “personalizado”, através dos vários Arquétipos Cósmicos reunidos dentro dele.
A ideia que fazemos de SER HUMANO é uma aquisição bastante recente na história da Cultura Humana. Entre muitos povos antigos, os estrangeiros eram bárbaros que não pertenciam ao mundo dos Homens, ou eram menos humanos. Outros povos achavam que as mulheres não eram humanas ou eram criaturas sub-humanas.
Após as grandes navegações do século 15, quando os europeus estabeleceram colônias na Ásia e na África, nas ilhas da Polinésia, na Oceania, muitos discutiam se os nativos destes locais seriam ou não humanos, e, caso não, se seriam então antropoides. Até o Século 19, naturalistas ingleses, franceses e alemães colecionavam crânios de polinésios e africanos para o estudo de uma importante disciplina nas universidades, a anatomia animal comparada. Em alguns casos se levavam espécimes vivos para observação. Uma pequena comunidade de nativos de uma ilha da Polinésia foi inteiramente importada para os estudiosos da Europa, deixando a aldeia despovoada.
Este tipo de mentalidade colonial, de antropocentrismo racial, está também por trás dos genocídios cometidos contra as populações indígenas das Américas, na política escrava dos brancos dos séculos passados, e no antissemitismo hitlerista, entre outros absurdos.
O que, afinal, é o Homem?
Plotino, no século 1 a.C., tentou definir o Homem da seguinte maneira: “o lugar do Homem está entre os deuses e as feras; ele tende às vezes para um lado às vezes para o outro; assim alguns homens se assemelham aos deuses e outros às feras, e a maioria se mantém no centro”.
Duns Scotus, no século 9 d.C., colocou o Homem como uma síntese da Criação: “não sem razão o Homem foi denominado a oficina de todas as criaturas: de fato todas as criaturas estão nele contidas. Ele entende como um anjo, raciocina como um Homem, sente como um animal irracional, vive como um germe, constitui-se de alma e corpo e não carece de nenhuma coisa criada”.
Rudolf Steiner afirmou, perfeitamente em sintonia com as tradições ocultas de todos os tempos, que o destino futuro do Homem, seria o de tornar-se uma “décima hierarquia”, além das nove formadas pelos Anjos, Arcanjos, Arqueus, Tronos, Serafins, etc, que poderia ser denominada “Hierarquia dos Espíritos da Liberdade”. A missão do Homem seria a de insuflar o Espírito da Liberdade no Universo em futuras etapas da Criação, quando o Homem também será um Criador.
O Homem só pode ser um Espírito da Liberdade a partir do momento em que se torna Consciente, porque uma criatura inconsciente não pode optar livremente, só o pode instintivamente por necessidade da Natureza e não por escolha pessoal. Esta possibilidade humana da escolha livre e consciente foi uma aquisição evolutiva do Homem, foi justamente o que o caracterizou como HOMEM.
Assim, cidadão de dois mundos, o Mundo Natural e o Mundo Celeste, o Homem elabora seu próprio mundo, através da cultura, dos referenciais simbólicos que cria, para que assim possa se orientar e compreender o Universo tanto interior como exterior. O Homem não apenas vive, mas também, “à imagem e semelhança do seu Criador”, cria Arte, Filosofia, Ciência, Religião. Elabora regras sociais de convívio, procura a Beleza e a Verdade, o sentido real das coisas.
Ele também destrói, guerreia, assassina, serve às forças do caos e cai na mais profunda irracionalidade.
Mas o Homem também pode ser divino, artista, músico, poeta, mestre de ideias, bondoso, belo e generoso. É quando, então, o Homem é verdadeiramente Homem.
O Homem Vitruviano
Na imagem do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, podemos observar a sobreposição de dois homens com naturezas distintas – O CIDADÃO DE DOIS MUNDOS.
O Homem Cósmico, com os braços e pernas abertas dentro do Círculo, simbolizando sua natureza espiritual, e o Homem em forma de Cruz, dentro do Quadrado, simbolizando sua natureza terrena.