Durante a vida, levamos um bom tempo para perceber a diferença entre o TER e o SER. Muito já ouvimos e lemos a respeito do tema. Num primeiro momento, nem parece ser uma questão tão importante, porque conquistar as coisas – e desta forma, TER – nos dá uma grande satisfação, como uma espécie de prêmio por uma etapa vencida.
Coisas como o primeiro carro, a casa própria, casamento, família, filhos, profissão, tudo isso são fases, conquistas, realizações que nos enchem de orgulho e satisfação. E é bom que seja assim, porque isto é um fator motivador que nos incentiva a seguirmos em frente com entusiasmo, para as etapas seguintes e novas conquistas.
Existem também os pequenos mimos e agrados que buscamos no dia-a-dia. Estes têm a ver com a satisfação mais imediata e aparecem com mais destaque para percebermos nosso grau de apego. O acúmulo destes pequenos prazeres fica muito evidente. A satisfação que proporcionam é quase efêmera e logo pensamos em substituí-los para uma nova onda de satisfação. Tudo isso vai causando um sentimento de frustração, de falta, de nunca chegarmos a uma satisfação permanente, plena.
Quando começamos a olhar para nossa vida como um grande panorama, com a ajuda do nosso Observador interno, descobrimos que não precisamos TER nada, precisamos simplesmente SER.
Tudo de que necessitamos nos é de certa forma emprestado. Os recursos do Universo são abundantes como uma grande despensa onde está tudo disponível.
Como tudo é energia, é importante ter em mente que, por recebermos tudo “emprestado”, precisamos ser cuidadores responsáveis pelos recursos que nos são dados, ou melhor, transitoriamente cedidos.
Outro ponto a considerar é que a energia precisa circular. Aprendemos isto com as leis naturais, que tudo está em constante movimento, na incessante busca de equilíbrio entre os elementos, as estações, as polaridades, etc.
Então, quando começamos acumular, vamos ficando cansados, deprimidos, porque o fluxo da energia é dificultado. Na verdade, não confiamos no fluxo de abundância da grande despensa do Universo. Esta funciona como uma grande reciclagem, em que, ao mesmo tempo em que devolvemos algo, recebemos algo em troca. Nunca ficamos sem nada. E pode acontecer de, num determinado momento, não conseguirmos enxergar a utilidade ou o valor do que nos é dado. São as coisas que atraímos aquelas das quais mais precisamos. E, às vezes, só vamos entender isto em um momento posterior de nossa vida.
Então, mais tarde na vida, com experiência e confiança, compreendemos que não precisamos possuir nada, que tudo há de ser providenciado pelo Universo.
Ao mesmo tempo, fica cada vez mais clara nossa responsabilidade com aquilo que nos é emprestado, o que nos tornando um usuário responsável, que não é imediatista e pensa nas futuras gerações.
Na vida pessoal, descartamos as coisas de que não necessitamos (devolvendo), nos desapegando. Não só as coisas materiais, mas também relacionamentos, situações de vida, enfim, tudo o que nos serviu, pelo que agradecemos, com reconhecimento da importância que teve no seu devido tempo.
Podemos perceber tudo isso como um grande processo de descoberta, talvez o mais importante ensinamento do planeta Terra, porque partimos exatamente como entramos: sem nada, tudo nos foi apenas emprestado.
Então, começamos a nos sentir leves, livres e confiantes, para seguir em frente sem medo de possuir, TER, e simplesmente SER.